Prof. Andrei Mayer
  • Você pode estar estudando errado!

    Publicado em 15/09/2020 às 15:30

    Quando você estava no ensino médio ou na graduação, já teve a sensação de que estudou por horas e que o pouco conteúdo que entrava na sua cabeça simplesmente ia embora alguns dias depois, como se nada tivesse acontecido?  E ainda ficava se comparando ao seu colega que nem estudou tanto e tirou uma nota melhor que a sua… Pois é, para os estudantes, essa situação é, infelizmente, bem comum. Às vezes, até chegamos a pensar que tem algo de errado conosco. Mas será que é isso mesmo?

    A verdade é que nem tudo são horas de estudo! Cientistas fizeram testes com vários alunos universitários e descobriram que estudar elaborando suas próprias perguntas e respostas é mais eficiente do que apenas revisar um texto. Esse efeito é maximizado quando nos fazemos perguntas enquanto nosso material de estudo está aberto ao lado, para nos auxiliar, ou quando temos pelo menos as palavras-chave do conteúdo. Esse método de estudo não apenas fez os alunos terem um melhor resultado na prova final, como também os fez lembrar do conteúdo por mais tempo.

    Ser estudante não é nada fácil e não precisamos dificultar ainda mais esse processo. Então você, professor, pode recomendar esse método aos seus alunos. E você aluno, tente praticar isso em casa ao estudar para as provas. Um pouco mais de eficiência no seu dia a dia pode fazer uma grande diferença!

    Autora: Gabriela Bolsoni Tomasi (graduanda em Psicologia na UFSC, aluna de iniciação científica).

    Fontehttps://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2211949320300065


  • Um cafézinho também ajuda a nossa memória?

    Publicado em 10/09/2020 às 15:43

    Tomar café pode melhorar nosso aprendizado

    O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo. Todo dia, milhares de pessoas levantam sonolentas de suas camas, e optam por tomarem um cafezinho para se sentirem acordadas e com energia. Além de seu efeito estimulante tão popular, cientistas vêm encontrando evidências que a cafeína presente no café também pode influenciar nossa memória.

    Existia um consenso de que o café tinha pouco ou nenhum efeito sobre a memória de longo prazo. Mas isso mudou em 2014, com um experimento onde os participantes estudavam uma série de imagens, e após isso, ingeriam uma xícara de café. No dia seguinte, eles faziam um teste para ver se lembravam das imagens que viram no dia anterior. Quem ingeriu café após a sessão de estudos, teve maior facilidade para lembrar das imagens, mostrando que a bebida teve um efeito positivo sobre a memória.

    Nos trabalhos realizados anteriormente a esse, a ingestão do café ocorria antes da sessão de estudos, o que era um problema, já que se tornava difícil avaliar se a aparente influência sobre a memória não era, na verdade, devido a outros efeitos que o café tem sobre a atenção. Afinal, a cafeína estava realmente melhorando a memória das pessoas ou isso era efeito do aumento da atenção durante a sessão de estudos? Era difícil responder essa pergunta, mas com uma pequena alteração no experimento, os cientistas conseguiram solucionar esse problema.

    Além de te deixar mais alerta e disposto, estudar enquanto toma aquele cafezinho, pode sim te ajudar a lembrar do conteúdo!

     

    Autora: Luiza Johanna Hubner (graduanda em Ciências Biológicas na UFSC, aluna de iniciação científica).

    Fonte: https://doi.org/10.1038/nn.3623

     


  • Como nosso cérebro prioriza o que aprendemos?

    Publicado em 20/08/2020 às 16:02

    Todos os dias, desde quando éramos crianças, nos deparamos com novos conceitos, pistas que usamos para diferenciar as coisas e aprender como o mundo funciona. Provavelmente a maioria das pessoas sabe a diferença entre gatos e cachorros. Mas os conceitos que caracterizam cada espécie, são bem mais difíceis de aprender. Para entender esses conceitos, você precisa concentrar sua atenção nas informações relevantes e desprezar as que são irrelevantes.

    Por exemplo, considere o seguinte conceito: todos os gatos que têm 3 cores, são fêmeas. Ao ler isso, você provavelmente ignorou todas as outras características do gato, como a cor dos olhos ou o tamanho do rabo. Isso ocorre porque ao mesmo tempo que seu cérebro prioriza as informações que são relevantes para entender tal conceito, ele também irá desprezar muitos outros dados.

    Recentemente, cientistas canadenses demonstraram que a seleção das informações que serão importantes para você aprender um novo conceito depende da ativação de uma área no cérebro localizada logo atrás da testa, bem no meio dela, chamada de córtex pré-frontal ventromedial. Ao aprendermos um conceito “fácil” essa área é menos ativada do que quando o conceito é “difícil”. Tudo por conta das informações que o cérebro precisa priorizar, que três cores são fêmeas, e ao mesmo tempo, ignorar, a cor dos olhos e o tamanho do rabo, por exemplo.

    É importante lembrar que, apesar de ser uma parte importante no processo de aquisição de conhecimento, apenas aprender conceitos não é o único elemento responsável pela aprendizagem. Outra forma de aprender é imitando outra pessoa, a imitação é um componente observado em bebês e crianças.

    Além disso, alguns conceitos devem ser usados com cautela, por não serem totalmente precisos, no caso, existe uma síndrome genética que faz 1% dos gatos machos terem 3 cores. Portanto, quando você ver um felino de 3 cores, você pode afirmar “apenas” com 99% de certeza de que se trata, na verdade, de uma gata!

     

    Autoria: João Paulino Perini (Psicólogo e Mestrando em Neurociências – UFSC)

    Fonte: https://www.nature.com/articles/s41467-019-13930-8


  • Abuso na infância pode levar à depressão

    Publicado em 07/08/2020 às 19:58

    Se você, enquanto criança, experienciou a morte de um familiar próximo, agressão física, abuso sexual ou emocional, saiba que as chances de desenvolver depressão são significativamente maiores. 

    Em uma meta análise recente, mostraram que existe uma forte relação entre a presença de estressores nas fases mais iniciais da vida e o desenvolvimento de depressão na juventude.

    E depressão na infância e adolescência tem consequências muito ruins em longo prazo, como dificuldades de socialização e econômicas, saúde física mais debilitada, alto risco de abuso de substância (como o álcool), maior probabilidade de desenvolver transtorno bipolar, comportamento sexual de alto risco e suicídio.

    Vale lembrar que esse estudo se concentrou na depressão durante a infância e a adolescência, mas existem muitas similaridades com os fatores de risco para depressão na vida adulta, então fique atento aos sintomas e busque uma vida saudável, de modo a prevenir tal doença.

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    Autora: Gabriela Tomasi (graduanda em Psicologia na UFSC, aluna de iniciação científica).

    Referência: LeMoult J, Humphreys KL, Tracy A, Hoffmeister J-A, Ip E, Gotlib IH, Meta-Analysis: Exposure to Early Life Stress and Risk for Depression in Childhood and Adolescence, Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry (2019), doi: https://doi.org/10.1016/j.jaac.2019.10.011


  • Música “viciantes”ativam seu cérebro como as drogas

    Publicado em 29/06/2020 às 16:49

    Você já parou para pensar em quantas vezes você ficou “viciado” em ouvir uma determinada música? Aquela música que você gostou muito, ou que te lembra algum momento prazeroso, ou que te “arrepia” quando você ouve, ou que “cola” no seu pensamento e você não quer parar de ouvir. Isso acontece porque o essas músicas ativam uma região do nosso cérebro chamada de Sistema de Recompensa.

    Um dos principais sinalizadores para ativação de sistema de recompensa é a dopamina, um neurotransmissor que tem suas concentrações aumentadas quando realizamos as atividades prazerosas e aumentam nossa motivação em fazê-la novamente, e novamente, e novamente… Este sistema de recompensa é o responsável pelos vícios, como no uso de drogas, álcool, na compulsão alimentar, etc. Ao realizar a tarefa “viciante”, ativamos novamente o sistema de recompensa, aumentamos a sensação de prazer, e isto nos motiva a querer repetir aquela tarefa.

    Essa relação da dopamina com o prazer de ouvir as nossas músicas preferidas foi explorada por pesquisadores num artigo publicado na PNAS (Proceedings da Academia Nacional de Ciências). Neste estudo, os voluntários tiveram seus  níveis de dopamina alterados pela administração de dois medicamentos, um que estimula e o outro suprime, e foram então avaliados em relação ao prazer que sentiam ao ouvir as músicas e à vontade que sentiam de escutá-las novamente.
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  • Vírus da Herpes pode induzir desenvolvimento da Doença de Alzheimer

    Publicado em 26/06/2020 às 08:11

    A Doença de Alzheimer (DA) é um doença neurodegenerativa (com morte de neurônios), caracterizada especialmente pela perda de memória recente (a pessoa chega até a esquecer quem é você em segundos).

    Ainda temos muito para descobrir sobre ela, mas dito em linhas (bem) gerais, sabemos que seu desenvolvimento está fortemente associado ao acúmulo “indevido” de certas proteínas no cérebro (a mais famosa delas é uma pequena chamada peptídeo ABeta).

    E agora vem a pergunta chave!

    Mas afinal, o que causa o acúmulo “indevido” dessas proteínas, e quaisquer outros fatores envolvido no desenvolvimento da doença?

    Na grande maioria dos casos (95%), são fatores ambientais, não genéticos (ou seja, você não herdou da sua família). Isso incluiu (1) alimentação, (2) práticas de atividades físicas (ou não), (3) qualidade do sono (já falei disso no post “você sofre lavagem cerebral…”), e…. agora vem a bomba… 
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  • Os filhos podem herdar traumas dos pais

    Publicado em 23/06/2020 às 14:42

    Você acredita que os filhos podem herdar traumas dos pais? Pois então, esse é um fenômeno que já foi muito observado na ciência e que ainda não foi completamente entendido. Um exemplo interessante disso é um estudo americano que observou que os filhos das famílias judias que foram vítimas diretas do holocausto são mais propensos a sofrer problemas ligados ao estresse. No entanto, será que esses comportamentos foram aprendidos, transmitidos pelo convívio com os pais ou possuem um componente genético?

    Os cientistas Brian G Dias e Kerry J Ressler buscaram compreender melhor como isso acontece, e como alguns traumas dos pais podem influenciar tanto no nível do comportamento quanto na própria estrutura do cérebro dos filhos. Mas como esse comportamento e essas alterações neurais são transmitidas? A partir dos experimentos, concluiu-se que esse traço foi transmitido pelos gametas dos pais (espermatozóide e óvulo), e que pode existir nele um componente genético.

    O experimento ocorreu da seguinte forma:
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  • De onde vem nossa linguagem

    Publicado em 16/06/2020 às 14:22

    Nós seres humanos somos um animal bastante peculiar. Modificamos o ambiente de forma descomunal, construímos edifícios com muito mais que cem metros, estradas que atravessam continentes e veículos automatizados capazes de fazer esses trajetos. Criamos a internet, que compila não só quase todo o conhecimento já produzido, mas também as mentiras e os vídeos engraçados de gatinhos. Mas como chegamos a esse ponto de desenvolvimento tecnológico? Muito possivelmente porque somos animais sociais que possuem habilidade de cooperar em grupos com quantidades exorbitantes de pessoas, saindo da nossa pequena bolha de amigos e familiares e expandindo até o nível mundial. Isso é possível porque possuímos uma capacidade quase infinita de comunicação, que é proporcionada pela nossa linguagem.

    Muitas pessoas podem acabar interpretando de forma equivocada os pensamentos de linguistas importantes e influentes, e acreditar que a bases para a nossa linguagem de forma súbita. Porém, se dermos uma olhadinha na Teoria da Seleção Natural de Darwin, vamos acabar encontrando algumas incongruências.

    De acordo com a Teoria da Seleção Natural, as mudanças acontecem através de pequenos incrementos e não de grandes saltos. Portanto, falar que a linguagem surgiu de forma súbita, acaba soando de forma quase que milagrosa! Uma outra hipótese mais consistente com a seleção natural, é que a linguagem se desenvolveu através de capacidades cognitivas preexistentes e herdadas dos nossos ancestrais não humanos.
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  • Você é racista?

    Publicado em 07/06/2020 às 14:56

    Aposto que você prontamente respondeu “não”, mas pense de novo…

    O racismo é um tipo de preconceito e, como já discuti aqui antes, está muito mais presente do que a gente imagina.

    A percepção de tudo ao nosso redor, incluindo pessoas, depende da atividade de várias regiões do cérebro, que constroem tal percepção de forma rápida, automática e involuntária, com base na nossa experiência (nossa memória).

    Se no passado seu cérebro associou a cor da pele de uma pessoa ou o fato dela ter “olho puxado” com alguma outra característica como inteligência ou caráter, pronto! Agora você tem tudo para ser racista!

    O problema é que na maioria das vezes tal associação é feita sem que a gente perceba e depende muito da cultura em que você está inserido.

    E, muito importante, tal percepção de uma pessoa muitas vezes vem carregada de conteúdo emocional. Quando você vê seu amigo, que emoções sente? Positivas, certo? Porque você o conhece e gosta dele.

    Mas e ao ver um pessoa que seu cérebro identifica como não sendo parte do seu grupo social? Neste  caso, ele automaticamente ativa regiões relacionados à medo e agressividade (em especial a amígdala), como se identificasse aquela pessoa como uma ameaça.

    E é exatamente isso que acontece no cérebro de um racista. Ao ver uma pessoa de uma etnia da qual ele já tenha feito associações negativas, seu cérebro vai automaticamente gerar uma percepção negativa (ela é mau caráter, burra, criminosa, etc); e, ao não identifica-la como parte do seu grupo, irá deflagrar respostas de medo e agressividade frente àquela potencial “ameaça”!

    Em um segundo momento, regiões do cérebro relacionados à deliberação e reflexão, como o famoso córtex pré-frontal (essa parte atrás da testa), podem suplantar tais repostas automáticas e até evitar sua recorrência, mas para isso, o racista precisa usá-las para refletir sobre o que está acontecendo e o porquê.

    Mas, infelizmente, não é isso que vemos acontecendo muitas vezes, não é Derek Chauvin?

    Referências:

    Kubota et al (2012) – The Neuroscience of race. Nature Neuscience

    Mattan et al (2018) – The social neuroscience of race-based and status-based prejudice. Current Opinion in Psychologygy


  • As pessoas estão mais felizes quando estão atentas ao presente

    Publicado em 02/06/2020 às 14:07

    Olá pessoal!

    É com muito prazer que venho aqui convida-los para a 2a edição do SemiNEURO – o seminário do meu grupo de pesquisa e divulgação NEUROcientífica, apresentado AO VIVO no nosso canal do YouTube/A culpa é do cérebro

    As apresentações acontecem todas as quartas-feiras às 10h. Fique a vontade para participar com comentários e perguntas!

    Amanhã teremos a apresentação do meu aluno de mestrado Pedro Marconi, que irá falar de um artigo publicado na Science sobre s relação entre “sonhar acordado” e felicidade!

    Segue abaixo uma breve descrição do trabalho e dos principais achados. Até amanhã!!!

    Aquilo que chamamos costumeiramente de “sonhar acordado” parece ser algo banal, porém é uma conquista evolutiva enorme, pois nos permite aprender, raciocinar e planejar. Outros animais não costumam passar tanto tempo pensando no que não está acontecendo em volta deles, contemplando eventos que já aconteceram no passado ou que podem acontecer no futuro.

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