Os filhos podem herdar traumas dos pais
Você acredita que os filhos podem herdar traumas dos pais? Pois então, esse é um fenômeno que já foi muito observado na ciência e que ainda não foi completamente entendido. Um exemplo interessante disso é um estudo americano que observou que os filhos das famílias judias que foram vítimas diretas do holocausto são mais propensos a sofrer problemas ligados ao estresse. No entanto, será que esses comportamentos foram aprendidos, transmitidos pelo convívio com os pais ou possuem um componente genético?
Os cientistas Brian G Dias e Kerry J Ressler buscaram compreender melhor como isso acontece, e como alguns traumas dos pais podem influenciar tanto no nível do comportamento quanto na própria estrutura do cérebro dos filhos. Mas como esse comportamento e essas alterações neurais são transmitidas? A partir dos experimentos, concluiu-se que esse traço foi transmitido pelos gametas dos pais (espermatozóide e óvulo), e que pode existir nele um componente genético.
O experimento ocorreu da seguinte forma:
1º Ratos machos foram ensinados a ficar com medo quando eles sentiam um certo cheiro (antes de eles terem seus filhotes). Isso foi feito dando um choque no rato ao mesmo tempo em que ele era exposto ao cheiro;
2º Os ratos tiveram filhotes com fêmeas que nunca tinham sentido esse cheiro;
3º Foi observado que os filhos desses ratos já nasceram muito mais sensíveis a esse cheiro (conseguiam perceber ele em quantidades muito menores) do que outros ratos. Ou seja, os filhos do pai que havia sofrido um trauma relacionado a esse cheiro nasceram com o comportamento alterado, semelhante ao do pai. Além disso, as áreas do cérebro relacionadas a esse comportamento também se modificaram, eram de fato parecidas com as do pai.
Se seu pai sofreu algum trauma durante a vida, isso pode influenciar seu comportamento de maneira drástica, como ter propensão ao estresse, por exemplo, e isso ocorre sem nos darmos conta. Você já imaginava que tantos dos nossos comportamentos poderiam ser influenciados dessa forma?
Autora:
Gabriela Tomasi
Referência:
Dias, B. G., & Ressler, K. J. (2013). Parental olfactory experience influences behavior and neural structure in subsequent generations. Nature Neuroscience, 17(1), 89–96. doi:10.1038/nn.3594