Você é racista?

07/06/2020 14:56

Aposto que você prontamente respondeu “não”, mas pense de novo…

O racismo é um tipo de preconceito e, como já discuti aqui antes, está muito mais presente do que a gente imagina.

A percepção de tudo ao nosso redor, incluindo pessoas, depende da atividade de várias regiões do cérebro, que constroem tal percepção de forma rápida, automática e involuntária, com base na nossa experiência (nossa memória).

Se no passado seu cérebro associou a cor da pele de uma pessoa ou o fato dela ter “olho puxado” com alguma outra característica como inteligência ou caráter, pronto! Agora você tem tudo para ser racista!

O problema é que na maioria das vezes tal associação é feita sem que a gente perceba e depende muito da cultura em que você está inserido.

E, muito importante, tal percepção de uma pessoa muitas vezes vem carregada de conteúdo emocional. Quando você vê seu amigo, que emoções sente? Positivas, certo? Porque você o conhece e gosta dele.

Mas e ao ver um pessoa que seu cérebro identifica como não sendo parte do seu grupo social? Neste  caso, ele automaticamente ativa regiões relacionados à medo e agressividade (em especial a amígdala), como se identificasse aquela pessoa como uma ameaça.

E é exatamente isso que acontece no cérebro de um racista. Ao ver uma pessoa de uma etnia da qual ele já tenha feito associações negativas, seu cérebro vai automaticamente gerar uma percepção negativa (ela é mau caráter, burra, criminosa, etc); e, ao não identifica-la como parte do seu grupo, irá deflagrar respostas de medo e agressividade frente àquela potencial “ameaça”!

Em um segundo momento, regiões do cérebro relacionados à deliberação e reflexão, como o famoso córtex pré-frontal (essa parte atrás da testa), podem suplantar tais repostas automáticas e até evitar sua recorrência, mas para isso, o racista precisa usá-las para refletir sobre o que está acontecendo e o porquê.

Mas, infelizmente, não é isso que vemos acontecendo muitas vezes, não é Derek Chauvin?

Referências:

Kubota et al (2012) – The Neuroscience of race. Nature Neuscience

Mattan et al (2018) – The social neuroscience of race-based and status-based prejudice. Current Opinion in Psychologygy

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Seu cérebro é mais PRECONCEITUOSO do que você imagina

20/05/2020 06:18

Um desses dois é um gênio e o outro é rico. Qual é o gênio e qual é o rico?

Você muito provavelmente chegou à conclusão, quase que automaticamente, de que o da 2ª é o rico e o da 3ª é o gênio, não foi?

Mas por que você chegou à esta conclusão? Você não conhece nenhum dos dois e eu não disse nada sobre eles. Dito em outra palavras, você fez um julgamento, formou um conceito sobre essas pessoas, antes de conhece-las ou de ter o conhecimento necessário para que pudesse avaliar adequadamente quem é o rico e quem é o gênio.

Ou seja, você foi preconceituoso!

Mas não fique se sentindo mal. Isso é normal! Toda vez que você vê uma pessoa, seu cérebro automaticamente gera uma percepção sobre ela! E ele faz isso com base em quaisquer informações que tenha, sejam elas acuradas ou não.

Dito em outra palavras, seu cérebro trabalha com o que tem!

E cá entre nós, quase sempre as informações que temos sobre uma pessoa são bastante limitadas, não é?

Se é a primeira vez que você a vê, seu cérebro vai ter “apenas” as informações visuais dela e do contexto; e, com base nisso e nas informações da sua memória, vai formar uma percepção em, literalmente, uma fração de segundos!

Não adianta negar e muito menos tentar evitar!

Por que seu cérebro concluiu que o cara da 2ª foto é rico? Por causa dos olhos dele? Não! Por causa do contexto que ele está inserido: usando um terno aparentemente caro, sentado em um poltrona aparentemente cara, fumando um charuto e bebendo whisky. E ao longo da sua vida, seu cérebro “aprendeu” (pra bem ou pra mal!!!) que pessoas assim são ricas.

A mesma coisa aconteceu com o cara da 3ª foto, com “cara de nerd”, e pode acontecer com qualquer outra pessoa que você tenha contato.

Então, caro leitor, tome muito cuidado com o que quer que você pense de uma pessoa, especialmente se você não a conhecer muito bem! Se você quer saber alguma coisa sobre ela, que tal perguntar?

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